sexta-feira, 10 de junho de 2011

Dez coisas que toda criança com autismo gostaria que você soubesse.


 1) Antes de tudo, eu sou uma criança.
Eu tenho autismo. Eu não sou somente "Autista". O meu autismo é só um aspecto do meu caráter. Não me define como pessoa. Você é uma pessoa com pensamentos, sentimentos e talentos. Ou você é somente gordo, magro, alto, baixo, míope? Talvez estas sejam algumas coisas que eu perceba quando conhecer você, mas isso não é necessariamente o que você é. Sendo um adulto, você tem algum controle de como se autodefine. Se quer excluir uma característica, pode se expressar de maneira diferente. Sendo criança eu ainda estou descobrindo. Nem você nem eu podemos saber do que sou capaz. Ao definir-me somente por uma característica, acaba-se correndo o risco de manter expectativas que serão pequenas para mim. E se eu sinto que você acha que não posso fazer algo, a minha resposta naturalmente será: para que tentar?



2) A minha percepção sensorial é desordenada.

A interação sensorial pode ser o aspecto mais difícil para se compreender o autismo. Quer dizer que sentidos ordinários como audição, olfato, paladar, toque, sensações que passam despercebidas no seu dia a dia podem ser doloridas para mim. O ambiente em que eu vivo pode ser hostil para mim. Eu posso parecer distraído ou em outro planeta, mas só estou tentando me defender. Vou explicar por que uma simples ida ao mercado pode ser um inferno para mim: a minha audição pode ser muito sensível. Muitas pessoas podem estar falando ao mesmo tempo, música, anúncios, barulho de caixa registradora, celulares tocando, crianças chorando, pessoas tossindo, luzes fluorescentes. O meu cérebro não pode assimilar todas estas informações, provocando em mim uma perda de controle. O meu olfato pode ser muito sensível. O peixe que está à venda na peixaria não está fresco. A pessoa que está perto pode não ter tomado banho hoje. O bebê ao lado pode estar com uma fralda suja. O chão pode ter sido limpo com amônia. Eu não consigo separar os cheiros e começo a passar mal. Porque o meu sentido principal é o visual. Então, a visão pode ser o primeiro sentido a ser superestimulado.  A luz fluorescente não é somente muito brilhante, ela pisca e pode fazer um barulho. O quarto parece pulsar e isso machuca os meus olhos. Esta pulsação da luz cobre tudo e distorce o que estou vendo. O espaço parece estar sempre mudando. Eu vejo um brilho na janela, são muitas coisas para que eu consiga me concentrar. O ventilador, as pessoas andando de um lado para o outro... Tudo isso afeta os meus sentidos e agora eu não sei onde o meu corpo está neste espaço.
  

3) Procure distinguir entre não querer entender e não conseguir entender.

Entender e expressar a linguagem e o vocabulário pode ser muito difícil para mim. Não é que eu não escute as frases. É que eu não as compreendo. Quando você me chama do outro lado do quarto, isto é o que eu escuto "BBBFFFZZZZSWERSRTDSRDTYFDYT João". Em vez disso, venha falar comigo diretamente com um vocabulário simples: "João, por favor, coloque o seu livro na estante. Está na hora de almoçar". Isso me diz o que você quer que eu faça e o que vai acontecer depois. Assim é mais fácil compreender.  

 
4) Eu sou um "pensador concreto", não consigo fazer abstrações.

Eu interpreto muito pouco o sentido oculto das palavras. É muito confuso para mim quando você diz "não enche o saco", quando o que você quer dizer é "não me aborreça". Não diga que "isso é moleza, é mamão com açúcar" quando não há nenhum mamão com açúcar por perto e o que você quer dizer é que "isso é algo fácil de fazer". Gírias, piadas, duplo sentido, paráfrases, indiretas, sarcasmo eu não compreendo.



5) Tenha paciência com meu vocabulário limitado
Dizer o que preciso é muito difícil para mim, por não conhecer as palavras para descrever o que sinto. Posso estar com fome, frustrado, com medo e confuso, mas agora estas palavras estão além da minha capacidade, do que eu possa expressar. Por isso, preste atenção na linguagem do meu corpo (retração, agitação ou outros sinais de que algo está errado).
Por outro lado, posso parecer um pequeno professor ou um artista de cinema dizendo palavras acima do compatível com a minha idade. Na verdade, são palavras que eu memorizei do mundo ao meu redor para compensar a minha deficiência de linguagem. Eu não sei exatamente o que é esperado de mim como resposta, quando alguém fala comigo. As palavras difíceis que de vez em quando empreego podem vir de livros, TV, ou até mesmo ser palavras de outras pessoas. Não preciso compreender o contexto das palavras que estou usando. Eu só sei que devo dizer alguma coisa. Quando repito sons produzidos ou frases proferidas por outras pessoas, estou externando uma das características mais comuns entre os autistas: a ecolalia.


6) Eu sou muito orientado visualmente porque a linguagem é muito difícil para mim.
Por favor, me mostre como fazer alguma coisa ao invés de simplesmente me dizer. E, por favor, esteja preparado para me mostrar muitas vezes. Repetições consistentes me ajudam a aprender. Um esquema visual me ajuda durante o dia a dia, alivia-me do stress de ter que lembrar o que vai acontecer. Ajuda-me a ter uma transição mais fácil entre uma atividade e outra. Ajuda-me a controlar o tempo, as minhas atividades e alcançar as suas expectativas. Eu não vou perder a necessidade de ter um esquema visual por estar crescendo. Mas o meu nível de representação pode mudar. Antes que eu possa ler, preciso de um esquema visual com fotografias ou desenhos simples. Com o meu crescimento, uma combinação de palavras e fotos pode ajudar mais tarde a conhecer as palavras.

 7) Diga o que eu posso fazer em vez de só dizer o que eu não posso fazer.
Como qualquer outro ser humano não posso aprender em um ambiente onde sempre me sinta inútil, onde sinta que há algo errado comigo e que preciso de "CONSERTO". Para que tentar fazer alguma coisa nova quando sei que vou ser criticado? Construtivamente ou não, é uma coisa que vou evitar. Procure o meu potencial. Terei mais de uma maneira para fazer as coisas.


8) Ajude-me nas interações sociais.
Pode parecer que eu não queira brincar com as outras crianças no parque, mas algumas vezes simplesmente não sei como começar uma conversa ou entrar na brincadeira. Se você pode encorajar outras crianças a me convidarem a jogar futebol ou brincar com carrinhos, talvez eu fique muito feliz por ser incluído. Eu sou melhor em brincadeiras que tenham atividades com estrutura começo-meio-fim. Não sei como "LER" expressão facial, linguagem corporal ou emoções de outras pessoas. Agradeço se você me ensinar como devo responder socialmente. Exemplo: Se eu rir quando uma criança cair do escorregador não é que ache engraçado. É que eu não sei como agir socialmente. Ensine-me a dizer: "você está bem?".

 9) Tente encontrar o que provoca a minha perda de controle.
Perda de controle, chilique, birra, malcriação, escândalo, como você quiser chamar, eles são mais horríveis para mim do que para você. Eles acontecem porque meus sentidos foram estimulados ao extremo. Se você conseguir descobrir o que causa a minha perda de controle, isso poderá ser prevenido.

10) Mantenha um registro de horários, lugares, pessoas e atividades. Encontrar uma sequência pode parecer difícil no começo, mas, com certeza, será conseguido. Tente lembrar que todo comportamento é uma forma de comunicação. Isso dirá a você o que as minhas palavras não podem dizer: como eu sinto o meu ambiente e o que está acontecendo dentro dele.

5) Tenha paciência com meu vocabulário limitado.

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